Entre os europeus, os italianos são os leitores menos assíduos de jornais e desde os anos 1970 as universidades têm discutido sobre a importância de estimular os estudos dos meios de comunicação nas escolas. A Itália tem diferença também geográfica, sendo que o norte do país lê mais que o sul, onde as estatísticas mostram menor escolaridade e nível intelectual.
O número de jovens do sul do país que não lêem nem um livro ao ano é quase o triplo dos jovens do norte. De acordo com o Instituto de Estatística Italiano (Istat), cerca de 42% dos habitantes da região sul, em 2003, liam um jornal uma vez por semana, enquanto no norte essa percentual era de 65%. E somente 27% dos italianos do sul liam livros, contra 46% dos do norte. Esses números mostram uma relevante diferença de condições econômico-sociais e infraestruturas culturais.
A dificuldade de aproximar o jovem da leitura se deve a disparidades econômicas e sociais e reflete o distanciamento da leitura na vida quotidiana, que aumentou com a internet e o uso do celular como forte de informações. Existe uma dificuldade real em ampliar a esfera de leitores. No relatório sobre a comunicação na Itália de 2004, elaborado pela Censis, ficou constatado que apenas 35,2% das mulheres liam jornais, contra 60,6% dos homens. A dupla jornada das mulheres, no trabalho e em casa, com os afazeres domésticos e cuidados com os filhos, pode ser um dos fatores que dificulta essa aproximação e que é considerada na reflexão sobre os resultados da pesquisa.
Uma das conclusões do relatório do Censis é que o jornalismo não deve permanecer preso no gueto público masculino, adulto e instruído, o jornal deve abandonar a mentalidade da rapidez a todo custo, da corrida desenfreada para chegar sempre em primeiro lugar a falar de algo, mesmo quando não se entende o que está sendo falado, da dramatização que empurra o fato para a primeira página.
Os jovens consideram os meios de comunicação como uma fonte de diversão, mas se sentem incomodados quando percebem a tentativa de impor o seu ponto de vista, a superficialidade, a tentativa de manipulação. Na maioria das vezes a leitura permanece só nos títulos, uma leitura horizontal, uma sequência indistinta de palavra, ou no máximo acontece a leitura de artigos breves, que sugerem um compromisso e um cansaço reduzidos, privilegiando noticias e assuntos locais ao invés de política interna e internacional.
A leitura requer operações cognitivas complexas que implicam na compreensão e na retenção na memória de informações retiradas da leitura. Essa aquisição da informação é eficaz se ocorre a formação ou a modificação do sistema de conhecimentos, opiniões e comportamentos dos leitores. O estudo da informação na escola, em seus mais diversos modos, pode melhorar o nível de comunicação institucional, desenvolver o interesse pela leitura e escrita, aumentando a consciência cívica, o papel que a informação pode exercer em uma sociedade democrática. Avaliando o nível de consciência subjetiva nos processos de socialização política e o poder negativo do potencial de manipulação.
Na Itália, a Associazione Italiana per l’educazione ai media e alla comunicazione (MED) é uma das mais ativas instituições de incentivo à educação à informação nas escolas, formando profissionais, criando programas e projetos nas escolas. São professores universitários, profissionais da informação, educadores com o objetivo de ampliar o diálogo entre os saberes na pesquisa sobre comunicação, indo além da dimensão linguística-semiótica, relacionando as instituições e o público, criando um poder de “convocação” entre as instâncias.
A sociedade civil, os educadores (professores e pais), os meios de comunicação e a pesquisa acadêmica se uniram para que a MED desenvolvesse na Itália um amplo território de trabalho, dando origem à cursos de graduação, master, doutorados que se dedicam ao argumento.
O MED propõe um percurso didático para a aprendizagem da informação que se inicia com a compreensão do funcionamento da comunicação humana, usando a semiótica da linguagem; no segundo ano, estuda-se a comunicação de massa; no terceiro ano é como as informações são coletadas e escritas, como um jornal é organizado; a análise do conteúdo relativo aos artigos de jornal; a simulação do trabalho em uma redação, produção de um jornal escolar.
Além da MED, existem diversas iniciativas na Itália para o incentivo à educação à informação, como o concurso “Penne Sconosciute”, da Associazione OSA, que desenvolve um projeto de jornais escolares nas escolas italianas. Em 2006 participaram do concurso 4 mil jornais realizados pelos estudantes.
Outro projeto é o “Trenta righe per sessanta battute. L’anello creativo”, um projeto/ experiência desenvolvido durante o congresso “Media@tando 2004”, na cidade de Bellaria – Igea Marina, para a produção de textos como artigos e notícias de jornais. Foi desenvolvido um módulo didático de 10 horas para fornecer as técnicas básicas da escrita jornalística.
O jornalismo escolar tem ganhado reconhecimento no país e algumas iniciativas isoladas, como da escola fundamental Sandro Pertini, na cidade de Spotorno, que criou o “Il Giornalino del 2000”. As crianças foram ouvidas e revelaram que gostariam de fazer um jornal com os seus interesses, o que fazem na escola, como descobrem o mundo, como gostariam que fosse o mundo. Alunos e pais entraram em contato com associações, lojas, bancos e publicaram um jornal com 500 cópias, que foram duplicadas no ano seguinte. Os estudantes discutiram o título, assuntos a serem abordados, os logotipos e a produção do material. O sucesso desse projeto se expandiu para outras escolas e foi observado que a educação à informação pode servir como um facilitador para o aprendizado de temas mais complicados e enfrentar uma situação social difícil.
Os meios de comunicação foram usados como pretexto para fazer experiências, se relacionar. A exclusão cognitiva, que é uma característica da nossa sociedade de capitalismo cognitivo, pode ser combatida com a informação, que é um elemento que produz riqueza. Na linha de pesquisa sobre a educação à informação na Itália os professores que se dedicam a inserir a educação à informação na escola não crêem na horizontalização porque vêem a necessidade de refletir sobre a pedagogia da assimetria, a qualidade consciente que não seja em situação linear, mas assimétrica, na pedagogia. Sair do genérico e identificar competências, a linguagem do uso da informação muitas vezes é excludente e é esse o desafio.
O uso social da informação, os seus limites e suas potencialidades faz parte de um saber mais específico, análogo à progressiva formalização dos processos educativos e de instrução. Esse saber teórico-prático, que deve ser considerado parte integrante da formação de base de cada indivíduo, não pode se limitar aos aspectos técnicos ou formais das novas tecnologias.
A comunicação é o principal instrumento de mediação e participação contemporâneo, tem o poder de mudar comportamentos e atitudes, aumentar a participação social, intervém nas desigualdades culturais e sociais. Age concretamente sobre os riscos da fragmentação e do individualismo.