Educação aos meios de comunicação, Media Education, Educomunicação, Medienerziehung, instrumentos a serem usados nos processos didáticos como parte da experiência que os alunos devem fazer com os meios de comunicação, a compreensão crítica dos textos e do sistema dos meios de comunicação, entendidos não somente como instrumento mas como linguagem e cultura.
Apesar de ainda não fazer parte do currículo escolar na escola italiana, existem diversas iniciativas públicas e privadas em curso. Apesar disso, falta ainda organicidade, sistematicidade e interdisciplinariedade nos diversos projetos italianos, não tendo uma maturação na mesma medida nos outros países europeus. É necessário um maior investimento na construção da cidadania e da participação e na cultura política das novas gerações.
Na tradição didática, especialmente da realidade italiana, a cultura dos meios de comunicação e da escola foram vistas como duas realidades muito diferentes, até mesmo opostas. Realmente existem tradições com diferenças significativas. O resultado dessa diferença entre a formação intelectual proposta pela escola e a realidade da comunicação e da transferência de informações na sociedade é um reduzido desenvolvimento do potencial de uso da capacidade de compreensão dos recursos comunicativos individuais. O cérebro humano tem níveis de consciência que devem ser trabalhados visando um desenvolvimento mais integral. Essa capacidade de dar unidade à produção intelectual é um importante instrumento de raciocínio. A fragmentação das informações é um obstáculo à consciência e por isso é necessário conseguir integrar o que se ensina. As representações mentais das informações recebidas dependem da capacidade individual de integrar os conhecimentos.
Com as palavras podemos recontar a história, organizar os dados, criar novas composições. Além das palavras, a linguagem é também visual e sensorial, ainda mais na sociedade contemporânea onde os meios de comunicação têm um papel importante, para não dizer essencial. De qualquer forma é fundamental que a palavra escrita seja ensinada antes para depois mergulhar na complexidade da imagem e do sensorial. A escola tem tem ainda a função de aproximar esses dois mundos, mas se encontra em constante dificuldade nesse papel. A cultura da escola é verbal, escrita, com pouca mediação sensorial tanto linguística quanto tecnológica, de abstração e racionalização da experiência, de codificação formalizada dos saberes, da cultura, da tradição, do passado, de um tipo de aprendizado conceitual segundo uma lógica analítica, linear, sequencial.
A cultura dos meios de comunicação, ao contrário, é caracterizada pela integração sensorial-linguística e tecnológica entre a palavra, som e imagem, por uma experiência de imersão, pela lógica do presente, da complexidade, globalidade, analogia, da codificação dos elementos de conhecimento a partir da lógica do sensório integral – a participação no espaço e no tempo, o envolvimento emocional – uma espécie de aprendizado por intuição a partir de uma lógica global, associativa, reticular.
A educação às mídias na Itália começou com cinema, no início do século XX foram publicadas 25 revistas sobre cinema e, em 1946, o debate sobre a educação para a análise do cinema se afirmou como o fortalecimento das competências individuais para discutir a arte e com a criação do Centro Internazionale dello Spettacolo e della Comunicazione Sociale e a publicação da revista “Educazione Audiovisiva”, nos anos 1970, foi a primeira vez que se propôs na Itália um método semiótico-estrutural de leitura da imagem. Mas foram excluídos nesse momento avaliações psicológicas, sociológicas e antropológicas. Em 1985, os programas para a escola italiana revelam a importância da educação para a imagem. A introdução de novas tecnologias na escola na década de 1990 foi um novo estímulo ao debate sobre a educação aos meios de comunicação nas escolas italianas.
Em 2002 foi aprovada a “Carta di Bellaria sull’educazione ai media e alle tecnologie nell’Italia del nuovo millennio”, que inicia com a seguinte afirmação: “A realidade social e cultural do novo milênio, em continuidade com estruturas e processos já consolidados durante a segunda metade do século XX evidencia a constituição de um verdadeiro e próprio ambiente midiático (media environment). A educação aos meios de comunicação consiste em produzir reflexões e estratégias operacionais relacionadas aos meios de comunicação e entendidos como recurso integral para a intervenção formativa, é uma estratégia para a gestão da educação à cidadania. Esse percurso formativo não é papel somente da escola, mas também da família.
A partir desse documento a figura desse profissional na Itália passou a ter um papel mais relevante, um especialista em educação e processos comunicativos, com a sugestão da criação de percursos formativos específicos na universidade. Foi elaborado com o Ministério da Instrução, Saúde, Oportunidades Iguais, Questões Sociais um projeto de promoção de iniciativas de educação através dos meios de comunicação para tratar casos de marginalização, deficiências, institutos de correção.
Entre as ações estabelecidas, se propõe a promoção de uma ligação em rede de todos os educadores que trabalham no âmbito educativo com as mídias. A criação da Associazione Italiana per l’Educazione ai Media e alla Comunicazione – MED Education, em 1996, é um exemplo da tendência atual a aproximar a temática da pesquisa universitária e à prática pedagógica na Itália. Em 2004 a MED enviou ao Ministério da Instrução italiano um Plano Nacional de Educação aos Meios de Comunicação em que se propõe a ligação entre diversas experiências na Itália, na linha das grandes associações internacionais como a Association for Media Literacy de Ontário, no Canadá.
Existem diversas iniciativas isoladas na Itália, como o “Centro Permanente per l’Educazione ai Mass Media Zaffiria”, a “Associazione MediaEducation.bo“, o “Laboratorio di Media Education per i genitori di Borgo Antico di Bar””i, o “Marano Ragazzi Spot Festival”, no centro de recuperação de menores em Nápoles, o Maestri di Strada também em Nápoles, o “Studiare la storia per avere radici ed ali”, em Pádua, o projeto de vídeos itinerantes “Zalab”, que atua em contextos de marginalização social, empoderamento e inclusão social na Palestina, Ilhas Eólias, Albânia e Tunísia.
Em muitos desses projetos se desenvolve o diálogo entre as mídias tradicionais e as novas mídias interativas, que pedem interação, cooperação, expressão, descentramento cultural. Está em curso o desenvolvimento do “Archivio Nazionale delle Esperienze in Media Education (ARNEMED)” no qual confluem experiências isoladas e a criação de um “Osservatorio Interuniversitario per la Media Education (OIME)”, que possa agregar as universidades italianas nas quais existam pesquisadores ou centros de pesquisa nesse campo. Na prática, e de forma geral, na Itália existem diversas iniciativas de leitura dos jornais em classe que estabeleceu uma forte relação entre editores e as escolas.
Na Universidade Católica de Milão, desde 2007, funciona o “Centro di Ricerca sull’Educazione ai Media, all’Informazione e alla Tecnologia (CREMIT)” que desenvolve modelos, metodologias e instrumentos inovadores para a análise crítica das imagens, o estudo dos consumos midiáticos entre os jovens, o uso dos blogs e redes para favorecer a colaboração entre estudantes e melhorar o método de aprendizado. Entre as prioridades dos projetos estão: ensinar como fazer pesquisa na Internet e a leitura consciente dos jornais por meio de cursos de formação para os professores.
A partir da criação do site “Il Mediario, il portale italiano sull’educazione ai media” ficou mais fácil, na Itália, ter acesso às iniciativas no setor, criando um lugar virtual para divulgação de programas e projetos.