As atividades com o jornal em sala de aula

Um dos métodos pioneiros para usar os meios de comunicação na escola foi sugerido por Marshall Mc Luhan, Kathryn Hutchon e Eric McLuhan em um artigo publicado em 1977, “City as classroom: Understanding language and media”, em que propunham comparar os jornais e suas linguagens em sala de aula. Os estudantes deveriam desenvolver a capacidade de descrever os “modelos de leitor” de cada publicação e refletir sobre o conceito de notícia com perguntas como: O quê faz um fato ser notícia? As notícias são apenas “coisas que acontecem”? Se tem um acontecimento que poucas pessoas sabem, é notícia? Quando se transforma em notícia? As histórias não aceitas, que não são publicadas, são notícia?

Nesse trabalho em sala de aula se propõe diferenciar as normas da crítica literária e as da crítica jornalística, mas também tentar resgatar o papel essencial que o jornalismo teve na divulgação da literatura, como acontecia, por exemplo, na época de Charles Dickens. É necessário também elaborar a análise da função política e social do jornal na comunidade e avaliar o papel da publicidade na elaboração do jornal.

Outras perguntas aparecem, à medida que o processo de reflexão sobre o papel dos meios de comunicação fica mais denso. Como é feita a pesquisa das notícias? Como são escritas? O quê determina o tamanho de um texto? O quê faz um jornal ser diferente dos outros? Quais os serviços que o jornal oferece aos leitores? Como os jornalistas definem os “leitores modelos” do veículo para o qual trabalham? Qual é a tendência política do jornal? Quais critérios os redatores usam para determinar quais artigos devem ser publicados? Quais artigos ou gêneros de artigos são recusados? Como é determinada a escolha da publicação pelas páginas? Quais páginas têm formato fixo e quais são variáveis?

Na Espanha surgiu um outro método de análise, proposto por Enrique Sánchez. De acordo com esse método, o primeiro passo da atividade de reflexão sobre os jornais em sala de aula seria a análise da primeira página, onde tem uma grande quantidade de informações que levará ao interesse ou não de ler o interno do jornal. Na primeira página se percebe também a opinião do jornal e o seu modo de representar a realidade. No primeiro contato, o professor deve chamar a atenção dos alunos sobre o nome do jornal, o preço, o lugar onde é publicado e estabelecer uma relação imediata também com os outros meios de comunicação, como o rádio, a televisão e internet.

Em um segundo momento devem ser analisados os títulos das matérias, que são resumos da notícia e tem o poder de manipulação da opinião pública. Deve-se também investigar o número de colunas usadas, a medida do tipo, o lugar onde foi colocada a informação, se colocaram um fotografia ou não, etc. Se o professor possui vários jornais à disposição pode fazer um trabalho comparativo bem mais relevante, para em seguida realizar a análise das seções, organizar um sumários dos temas escolhidos para serem noticiados. Transversalmente os estudantes são estimulados a aprender também a diferenciar uma entrevista de uma carta, um artigo de opinião de uma notícia. 

Para McLuhan, a página de um jornal seria como um quadro medieval em que as dimensões de um fato específico não mostram a proximidade com o observador, mas a sua importância e o seu significado geral. Não existe uma distinção rígida entre o primeiro plano e o fundo, como acontece na arte posterior; nenhuma especificidade é estabelecida como figura com todo o resto como seu fundo. A composição da página de um jornal tem algo semelhante: não tem um fundo fixo para as componentes de uma página nem alguma ordem especial de precedência, nenhuma história sequencial para unificá-los, nenhuma conexão para ligá-los.

As principais dificuldades no primeiro contato com o jornal é a capacidade de interpretação das intenções dos editores. Como nota Sanchéz, para o não profissional é difícil saber quem realmente está atrás das notícias. Os dados diretos são escassos e muitas vezes são inconscientemente (ou até mesmo conscientemente) ocultados. Sem dúvida, para um bom modelo pedagógico de estudo da informação, é preciso investigar os dados que os meios de comunicação nos fornecem indiretamente.

A análise dos “dados indiretos” é a forma mais eficiente de aprender a reconhecer estes sinais de poder dos meios de informação, como a análise da primeira página, a importância dada a um fato, a escolha do tamanho da foto, ou a ausência de ilustração, o espaço que a notícia ocupa, reconhecer as opiniões pessoais e corporativas do editorial e dos artigos.

O objetivo inicial para se trabalhar com o jornal é descobrir, a partir da manipulação de jornais e revistas, que cada um deles é um elemento unitário, com características próprias e uma coerência determinada, apesar das diversidades dos elementos que o compõem. É necessária a clareza de que a divulgação de informações é um instrumento técnico de trabalho e um apoio conceitual, ideológico e cultural. É um dos pontos de partida para conhecer os diversos modos de participar da vida social e descobrir a realidade. As técnicas do jornalismo podem ser suporte para investigação de fatos, novidades, formas de comportamento social no ambiente escolar que, consequentemente, podem ser aplicados posteriormente na vida em comunidade.

A análise constante da influência dos meios de comunicação na cultura e na vida é uma forma de conhecer melhor a sociedade,  a cultura e os comportamentos sociais. A educação à leitura dos jornais tem como objetivo mais importante adquirir o sentido da investigação e o desenvolvimento de estratégias para atingir um espírito científico que determina a possibilidade de uma educação permanente. Um outro elemento que não deve ser desconsiderado é a análise da publicidade e a sua influência no comportamento humano. A análise da publicidade permite identificar a manipulação à qual estamos expostos e sugerir novas formas de comportamento. A publicidade é também ao mesmo tempo arte e ideologia, cultura de um momento histórico e manipulação consciente. Através da publicidade podemos conhecer, aceitar ou recusar o que vem de fora.

Ter acesso à informação é uma das formas de continuar o aprendizado da realidade social contemporânea, como a geografia, a história e a cultura, desenvolve as competências de pesquisa, de aprender a reconhecer a importância da especialização do saber, questionar, desenvolver o processo de planejamento e compreensão. O ato de investigar leva também a resultados paralelos e complementares, que suscitam a curiosidade, ajudam a aprender a pesquisar e localizar fontes de informação, de classificar os dados, objetos ou resultados, de contrastar os dados e conseguir informações que permitem chegar a resultados.

O acesso à informação favorece a inteligência, desenvolve o espírito de ordem, desenvolve a consciência da limitação, a sinceridade e a autenticidade acadêmica, desenvolve a capacidade de análise, relaciona o aluno com o seu meio, o capacita para realizar atividades por ele mesmo, torna possível o seu compromisso científico com o ambiente, fortalece o que foi aprendido em etapas anteriores da vida, fortalece o espírito científico, obriga a tomar decisões, consolida a responsabilidade individual e social, proporciona ocasiões de relações humanas e os incita a enfrentar a crítica. A solicitação, no ambiente escolar, da análise de informações jornalísticas, vai, portanto, além das competências verbais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *