Estratégias e táticas para o uso da educação aos meios de comunicação

Ser capaz de interpretar o discurso jornalístico é uma ação social, um impulso para a propensão individual de receber e avaliar as informações e assim desenvolver opinião própria. Todos os dias as pessoas devem lidar com eventos, pessoas, objetos, considerações, questões materiais e pessoais. O ato de se relacionar e comunicar é universal, transversal e presente e em qualquer campo de atividade, seja profissional, familiar,  em qualquer prática, além de culturas, crenças. É simplesmente a possibilidade de diálogo diferente da fala, com palavras escritas que formam frases compreensíveis.

Ensinar a leitura de textos jornalísticos é um diálogo principalmente entre dois campos do saber, a pedagogia e as ciências da comunicação, de forma a ampliar as possibilidades de leitura  a partir das possibilidades de relação entre o mundo dos meios de comunicação e o mundo da formação, superando as fragmentações, as distinções e os limites impostos pelos discursos diferenciados. Estamos diante da necessidade de repensar a representação da realidade e a semiótica tem sido um instrumento muito útil nesse percurso ao ajudar a formular teoricamente, por exemplo, a relação entre a escrita e o contexto.

A qualidade da herança cultural em função da classe cultural, observou Raymond Boudon, ajuda a explicar as diferenças de êxito escolar e o desenvolvimento na capacidade de entender o mundo e esse saber a mais, a educação à leitura do jornalismo, pode ser um instrumento a mais para a redução das desigualdades na vida adulta. A informação hoje está disponível, o que diferencia é a capacidade de entendimento e reflexão. 

Pierre Bourdieu e e Jean-Jacques Passeron acreditavam que o problema da desigualdade das oportunidades na vida depende de um mecanismo de repetição. A estabilidade da estrutura das chances dentro da família, da comunidade e também da escola não se reproduz na vida adulta. Saber expressar uma opinião ou um raciocínio, ser capaz de compreender a estrutura da construção do discurso na vida pública são fatores que diferenciam o percurso profissional e social. E a escola tradicional não é estruturada para responder a essa demanda, o seu ritmo de transformação é lento e profundo. Mas a velocidade das mudanças nas exigências de saber na sociedade da informação requer uma resposta mais imediata para a inclusão. 

Por isso o lugar essencial da capacidade de leitura. A leitura é um processo muito condicionado, além dos conhecimentos do leitor, também da atenção e do tempo disponível para ser investido no processo. As expectativas, os objetivos, as intenções do leitor influenciam seja a velocidade de leitura que a compreensão do próprio texto. A leitura e a escritura estão na base de qualquer aprendizado comunicacional e tudo o que virá depois dependerá principalmente do desenvolvimento desse domínio.

Um projeto didático formativo prevê um método de compreensão desse sistema de comunicação. A Associazione Italiana per l’educazione ai media e alla comunicazione (MED) propõe, por exemplo, que inicialmente os professores aprendam como “funciona” a comunicação humana a partir de uma semiótica da imagem, em seguida devem entender como funciona a comunicação de massa e por fim aprendem como coletar e escrever notícias, compreendendo concomitantemente como o texto pode ser lido e entendido. 

Esse aprendizado não deveria se ater a uma disciplina escolar, mas estar presente em todas as áreas da educação e ser um trabalho desenvolvido ao longo da vida escolar, por toda a vida. O sistema cognitivo deve ser permanentemente desenvolvido para aproximar o indivíduo cada vez mais da prática da consciência do que está a sua volta. 

Até os sete ou oito anos a criança começa a distinguir a metáfora, o semelhante, os sinônimos e as ambiguidades. Com a prática e o treinamento será capaz de diferenciar as diversas realidades mediadas de uma mesma história. Nesse caso o objetivo da educação para os meios de comunicação é oferecer competências que permitam ser um leitor inteligente, capaz de distinguir, assimilar e recusar essa realidade mediada.

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