O jornal poderia, portanto, ser considerado como um instrumento de “abertura” do espaço educativo. O mundo do jornalismo e da escola se relacionam revelando horizontes da dimensão educativa do texto jornalístico e a dimensão informativa da educação. No Brasil, já nos anos 1930, a proposta pedagógica Escola Nova já era orientada para a necessidade de oferecer um complemento ao aprendizado com materiais informativos sobre o quotidiano das pessoas. Apesar disso, o currículo escolar nunca considerou relevante essa área do saber, historicamente o jornalismo não foi considerado uma fonte de aprendizado.
As diversas seções de um jornal podem ser transformadas em unidades significativas de leitura e escrita na escola, servindo como instrumento pedagógico e de formação crítica. É o que foi demonstrado no livro “Jornal. Uma abertura para a educação”, de Cecília Pavani, Ângela Junquer e Elizena Cortez, resultado do trabalho no projeto “Correio escola” do jornal “Correio Popular”, de Campinas, durante 15 anos, envolvendo 30 mil professores e ais de 400 mil alunos.
Aprender a dominar a linguagem específica do jornalismo, ser capaz de falar e escrever são aspectos importantes para inclusão social. Jornais como “O Globo”, do Rio de Janeiro, investiram em suplementos infantis, nesse caso o “Globinho”, em que as notícias eram reelaboradas para que as crianças tivessem acesso ao jornal. Além disso as crianças eram convidadas para visitar a redação e aprender como um jornal é realizado, através do projeto “Repórter Mirim”. Uma pesquisa realizada pelo jornal com esses leitores demonstrou que eles procuram informações coloridas, positivas e divertidas. As crianças disseram que não gostam de ser informadas sobre fatos violentos.
No Paraná, o jornal “Gazeta do Povo” também criou um suplemento infantil, a “Gazetinha”. As próprias crianças, que eram escolhidas através de concursos, elaboravam os textos publicados, com apoio dos jornalistas. Os temas eram a realidade das crianças, mas também eram abordados assuntos do “mundo dos adultos” mas em uma linguagem mais acessível. O mesmo jornal criou também o projeto “Lendo e pensando”, em que o jornal era distribuído nas escolas com manuais para que os professores usassem em sala de aula.
O jornal de São Paulo “Folha de S. Paulo” publicou um suplemento chamado “Folhinha” em que eram publicadas notícias para as crianças e os editores se dedicavam a encorajar as crianças entre 6 e 12 anos a escrever e desenhar para o jornal. E no Rio Grande do Sul, o jornal “Zero Hora” criou o projeto “Para o teu filho ler” em que eram publicados índices orientando a leitura dos jornais por seção. Também em São Paulo, o jornal “A Tarde” publicava a revista “Caderno Dez”, em que os assuntos eram divididos entre os interesses das crianças, adolescentes e jovens.
As crianças lêem pouco no Brasil. Muito menos jornais. Mas quando os pais facilitam o acesso à leitura dos jornais eles demonstram interesse. Em primeiro lugar as crianças lêem revistas, em seguida os livros didáticos e, por último, livros de literatura obrigatórios nas escolas. Nas escolas particulares lêem sempre revistas e cerca de 4 livros por ano. Nas escolas públicas lêem revistas de vez em quando e 1 livro por ano.
As crianças de classe média discutem as notícias nas escolas, em casa e entre os colegas. Nas classes populares as crianças encontram menos interlocutores para ficarem informados.