O discurso jornalístico é uma comunicação constantemente interrompida, variável e sem homogeneidade. São narrativas sobre fatos que aconteceram ou que irão ocorrer e, pela sua instabilidade, são feitas de silêncios, dúvidas e ansiedades. A instantaneidade e a descontinuidade levam ao sentimento de precariedade nas relações de comunicação entre o jornalista e o seu público, que não sabem quais são os conhecimentos, a constância na busca pelo fato, a duração da sua existência real, o trabalho realizado. É um discurso desarticulado e não linear.
Consumo, informação, conhecimento e comunicação são fenômenos, como analisa Fabio Merlini (2004), que colocam a nossa existência em lógicas temporais caracterizadas por alguns traços comuns bem relevantes, como o declínio da experiência, a fragmentação do pensamento linear, a contração do tempo de duração da exposição à informação e a aceleração do que está por vir.
A dificuldade da continuidade entre quem produz o discurso e quem o segue é o desafio do jornalismo atual, que se depara então com uma narrativa fragmentária que cria obstáculos constantes para a compreensão e o diálogo entre os atores sociais. A fragmentação é um fenômeno que enfraquece a vida social em vários níveis, cognitivo e afetivo, público e privado, coletivo e individual. A descontinuidade no quotidiano cria lacunas do ponto de vista narrativo que incidem diretamente na capacidade de confrontar a identidade com a temporalidade. A qualidade do uso do tempo à disposição muda a qualidade da experiência e determina os poderes do discurso. São dominantes comunicativos que ao lado da potencialidade incidem também nas limitações do discurso.
A autenticidade do discurso depende da possibilidade de narração que se apresenta, permitindo que o outro participe desse conhecimento. Enquanto prática comunicativa, no jornalismo o que interessa é que o fato seja uma troca de experiências, que através da narrativa seja possível interagir dentro de um contexto de comunicação.
Narrar aqui é uma necessidade de pertencimento a um grupo ou a uma comunidade, de um posicionamento social no tempo, no qual o indivíduo sinta que faz parte. E é também uma necessidade de narração que envolve um desejo de reconhecimento: narrar significa tomar consciência de si mesmo, dos próprios problemas, da realidade que nos envolve. Através da narração o eu descobre a si mesmo, se compreende, se afasta e realiza a experiência de se sentir vivo. Essa necessidade de narrar que o jornalismo pega para si mesmo de forma decisiva revela uma pretensão de orientação por meio da representação do mundo. A questão é sobre o poder da narração no jornalismo, que apesar do seu aspecto fragmentário incide de forma indiscutível nas transformações sociais.
Se a escola se apropria também da linguagem jornalística, além da narrativa literária, científica ou de dissertação, abre a possibilidade de passar a refletir também sobre a fragmentação desse discurso, que pode ser forte ou fraco, dependendo da capacidade individual de conseguir organizar e contar fatos. Se a oportunidade linguística na comunicação se fundamenta na justiça social, na igual possibilidade de elaborar narrativas, a comunicação não será justa se não oferece a todos os interlocutores a mesma oportunidade linguística.
Antes mesmo da era da informação digital, Pier Cesare Rivoltella (1998) já falava sobre a fragmentação dos saberes na comunicação jornalística, da desarticulação dos olhares que antes determinava o diálogo, uma construção narrativa em que os elementos são recortados, descontextualizados e postos em novos contextos progressivamente.
Três campos do saber que tem se ocupado do discurso jornalístico nos interessa nessa análise: a Semiótica, a Teoria Social e a Teoria Psicológica.
A Semiótica se interessa pelos sinais, sua interpretação e sua produção-transmissão de um ponto de vista da hermenêutica, criando interseções entre a linguística, a teoria do significado e a filosofia da linguagem. Os estudos sobre a Semiótica começam a partir de uma avaliação estrutural da linguagem, no qual o leitor deveria decodificar a mensagem a partir da ideia de que a mensagem é compreensível por si mesma e que o processo comunicativo pressupõe um modelo linear de passagem da informação entre um emissor e um receptor.
A partir dos anos 1970, a narrativa ganha novas perspectivas de pesquisa. O “desconstrucionismo” de Jacques Derrida, no qual, em essência, interpretar um texto é reescrever. A “hermenêutica” de Georg Gadamer, que faz com que a interpretação seja um estímulo a ler a própria natureza do homem. E a “teoria do leitor implícito” de Wolfgang Iser, na qual defende a hipótese de que o leitor não é um receptor real, mas uma instância simbólica estimulada dentro do texto.
Do ponto de visa da Teoria Social, a comunicação é estudada pelo seu impacto político, econômico, cultural, a relação entre os meios de comunicação e outros tipos de comunicação, além dos estudos sobre a influência dos meios de comunicação sobre os indivíduos. O isolamento da individualidade multiplicou as relações fragmentadas e tornou mais difícil os estudos sobre os efeitos imediatos da comunicação e também revelou os efeitos limitados e os efeitos a longo prazo dos meios de comunicação na vida das pessoas. Para a Teoria Social são importantes os significados sociais dos meios de comunicação nos estudos de interpretação, nos usos e gratificações da linguagem, nos estudos sobre as audiências, os estudos culturais.
A Teoria Psicológica é um dos mais recentes campos de pesquisa na comunicação, propondo modelos e instrumentos para comunicar de maneira mais eficaz. São investigadas as teorias da influência direta, as teorias da influência seletiva, as teorias da influência indireta e das construções dos significados sociais. Trata-se de uma relação integrada de comunicação, em que se reconhecem a linguística, a antropologia, a sociologia e a psicologia, que se organiza em volta do papel fundamental da linguagem em identificar as estruturas de significado (os conceitos) e à interação social; a natureza do conhecimento como organização pessoal de significados subjetivos; o valor da interação simbólica entre os indivíduos para a sua compreensão do mundo e dos seus comportamentos.
O estudo da comunicação tem evoluído no sentido de ter diálogos mais específicos em teoria temáticas, que respondem à necessidade de conjugar o estudo da comunicação com outros campos do saber, por exemplo, “comunicação e tecnologia”, “comunicação e educação”. Surgem problemas empíricos, como a capacidade de provocação que acontece em uma transformação dos estilos cognitivos e dos comportamentos sociais dos sujeitos. Os meios de comunicação estão presentes no tempo social dos indivíduos e os outros atores nem sempre conseguem dialogar concomitantemente.
Quando Roland Barthes falava de uma transparência na mensagem dos meios de comunicação se referia a uma espécie de “educação” necessária à leitura da representação. A interação entre meios de comunicação e público depende do domínio de instrumentos semióticos que a escola até recentemente não considerava que era sua função ensinar. No entanto, os novos meios de comunicação oferecem chaves interpretativas para compreender a realidade social atual, tem uma grande capacidade de ajudar na compreensão da crise de racionalização ocidental, na predominância de valores econômicos, na valorização da produtividade. Predomina a lógica do domínio diante da relação, a lógica do engano em relação à transparência, a lógica da exclusão em relação ao acesso.
A teoria da educação não respondeu adequadamente às necessidades de mudança da cultura platônica da escuta para a cultura platônica da escrita, que se transformou na cultura da memória que a imprensa ofereceu à humanidade e, atualmente, diante do avanço constante da tecnologia, a cultura da argumentação por meio da escrita nos meios de comunicação e nas redes sociais. A escrita sempre foi um elemento de distinção social e política que garante o poder para quem já o possui.
Historicamente a escrita favoreceu a reflexão, ou seja, se pensa antes de falar, o que criou uma espécie de cultura da argumentação que impõe ao ser humano uma reorganização mental e estimula a habilidade lógica, de persuasão e análise crítica.
O impacto dos meios de comunicação sobre a forma em que percebemos a realidade é parte do processo de formação da cultura que se refere à estruturação da consciência.
Mauro Wolf (1992), ao abordar os efeitos sociais das mídias, mostra que os meios de comunicação orientam continuamente a atenção para os temas que eles mesmos fazem emergir, sedimentam o fato na consciência coletiva e o depositam na estrutura do conhecimento social, nos extratos de tempo, na cultura do social. Novos aspectos da realidade são colocados no centro da atenção momentânea, tornam-se temas sobre os quais se organiza provisoriamente o debate público, pontos de referência que formam uma contínua necessidade de expor opiniões. A fragmentação da crônica e o seu funcionamento constante como ancoragem coletiva para as tomadas de posição da opinião pública expõe a fragmentação da compreensão do real.