O mosaico das informações nos países em desenvolvimento

A principal questão entre os países em desenvolvimento econômico é que também a distribuição da informação segue a mesma regra de desigualdade identificada na distribuição de renda. Instituições mais fracas e monopólios mais fortes, governos mais displicentes e empresas menos interessadas. Muita informação desconectada com o que a população realmente necessita para ser autônoma intelectualmente. O dilúvio das informações deixa, na verdade, um vácuo, o desequilíbrio é contemporaneamente tecnológico, informativo, econômico, cultural e social.

O discurso jornalístico poderia ser um instrumento para organizar a desordem através das suas estratégias de dar significado à descontinuidade e às rupturas. Existe uma amplidão semântica que joga com as noções de causalidade e azar, temporalidade, repetição, que não favorece a mente preguiçosa e abandona quem não tem conhecimento prévio do que está sendo comunicado. A autonomia de leitura é muito relativa porque depende de liberdade e criatividade e acontece sempre dentro de limites e condições que não são de sua própria criação e que escapam do seu controle.

Nas sociedades economicamente desenvolvidas, obstáculos como a pobreza e o analfabetismo funcional não tem um peso tão determinante na experiência dos indivíduos com o jornalismo. Em ambientes como a América Latina existem “mundos” sociais diferentes que convivem e estabelecem também relações díspares em relação à informação. E como os meios de comunicação ainda possuem um grande poder de configurar as mentalidades e assim até mesmo encontrar o apoio necessário para a consolidação de qualquer projeto político, quase sempre aquele que interessa às elites. A era da informação dialoga com os equilíbrios hegemônicos anteriores como a mitologia, a religião e a ciência. Cada época tem a sua forma de fazer, falar, interagir e interpretar que se traduzem em discursos econômicos, militares, culturais, diplomáticos que formam no imaginário  as representações do mundo. A relação entre o pensamento científico e a ideologia geopolítica refletem nos meios de comunicação a nova dimensão cognitiva de representação que a humanidade está atravessando.

O jornalismo tem papel essencial nessa formação de um imaginário geopolítico. As estruturas econômicas e de produção das notícias intervêm na difusão, na escolha dos entrevistados na seleção das notícias e também no dimensionamento da importância do fato na hierarquia do noticiário. O estatuto econômico da notícia e o estímulo que as novas tecnologias dão ao poder de informação conferem ao jornalismo a dimensão de instrumento geopolítico. A concentração do poder da escolha das notícias difundidas por poucas empresas jornalísticas cria um fenômeno de homogeneidade do noticiário que os sistemas de referência latino-americanos não conseguem analisar e interpretar, ainda mais com a velocidade, a grande quantidade e a fragmentação na qual os fatos são veiculados. A formação de um imaginário geopolítico social latino-americano torna-se um problema na medida em que os jornalistas desses países não têm acesso direto aos acontecimentos e se apóiam nos materiais divulgados pelas agências. O ponto de vista predominante, portanto, acaba sendo dos profissionais dos meios de comunicação estrangeiros.

Mas se os jornalistas são conscientes do papel importante que podem exercer para atuar contra a desigualdade e a exclusão, são também capazes de desenvolver estratégias de construção do discursos que ajudem a elaborar pensamentos críticos e ampliar a capacidade de fazer inferências, pelo menos no público que desenvolveu capacidade de leitura mais autônoma. Apesar da tecnologia ter ampliado o grau de participação popular, a ausência de habilidades cognitivas transforma o cidadão em consumidor de notícias sem história, fruto de um discurso jornalístico baseado em estatísticas sem contexto.

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