Por uma prática à educação da leitura do discurso jornalístico

Nas primeiras tentativas de educar aos meios de comunicação, ainda nos anos 1970, a abordagem era bem mecanicista e concentrada nas informações sobre como o jornal era feito e as regras básicas para se escrever um texto jornalístico (essencialmente o quê? como? onde? quando? quem?). Em seguida o discurso jornalístico começou a ser usado como material de apoio para os conteúdos de outras disciplinas, seja na literatura, na geografia, história, língua estrangeira, ciências, etc. O interesse pedagógico sobre o sistema de produção e difusão, no entanto, precisa ser ampliado, na era da informação, para saber também identificar nesse discurso a construção social, a responsabilidade e as garantias democráticas. Aprender a identificar como o sistema filtra e constrói a notícia distinguindo argumentos e linguagens usadas, dando poder a um leitor cidadão mais exigente e consciente. 

Em primeiro lugar devemos perguntar o que significa ler. Os dicionários dizem que é descobrir algo oculto, interpretando sinais exteriores. Ler seria distinguir, decifrar, adivinhar e interpretar algo que é representado e que tem uma aparência determinada. A leitura é interpretação de elementos e para interpretar é preciso interrogar a linguagem, porque toda linguagem está presente para ser interrogada, para ser submetida  e provada no tempo real da vida de quem está lendo. 

Uma boa leitura pede seleção, comparação, síntese a partir de textos diferentes, questionar como se apresenta a informação e filtrar os elementos característicos da palavra, da frase e do texto em tipos diferentes de textos.

Na França e na Inglaterra o modelo de estudo dos meios de comunicação na escola se insere em um processo de política pública que é sistemático e objetivo. O projeto “Semaine de la presse”, na França, tornou possível compartilhar iniciativas diversas em educação aos meios de comunicação em todo o território francês ( e também nas escolas francesas no exterior) em que alunos de origem e classes sociais diferentes demonstram suas opiniões e críticas a partir de uma leitura pluralista do discurso jornalístico, descobrindo o aspecto relativo das informações, aprendem a comparar, a buscar informação, a entender o aspecto fragmentário e efêmero da atualidade que os meios de comunicação apresentam. Professores e alunos debatem como o discurso jornalístico influenciam a vida deles e da comunidade onde estão inseridos, além de terem oportunidade de demonstrar as suas produções no ambiente escolar. Jornalistas também participam dos debates e se prontificam a dividir o seu saber profissional com os estudantes. Professores e jornalistas, que pertencem a mundos tão distantes, se aproximam para debater a importância da escrita na estruturação do espírito lógico, crítico e cívico. Os leitores em formação se abrem à possibilidade de usar o discurso jornalístico como instrumento de democracia e descobrem que não precisam ser um público silencioso.

Os múltiplos níveis de leitura passam pela técnica, o visual, as estratégias de comunicação, os efeitos no público, a tecnologia. Além da formação, a possibilidade de exibir e dar visibilidade a projetos locais estimula a tomada de consciência sobre a possibilidade de participação que cada cidadão pode ter em relação aos fatos e a vida social. 

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