Subdesenvolvimento como problema econômico, político e informativo

A distribuição da informação na sociedade é irregular e favorece quem detém o poder. A maioria dos indivíduos é limitada ao reduzido saber disponível que o sistema educativo propõe – e consegue compreender somente o essencial das informações distribuídas pelos meios de comunicação. Para superar essas dificuldades é necessário ir além das estratégias de educação institucional e desenvolver táticas para compreender pelo menos parte do que o sistema de comunicação dispõe ao público.

A professora chama a atenção da criança que rabisca no livro, mas na verdade o que temos diante de nós é uma criança usando uma estratégia de poder, a possibilidade de reproduzir em um meio institucionalizado aquilo que sente e pensa. A televisão, os jornais ou rádio não possibilitavam a participação como a Internet, o que foi revolucionário na transmissão do saber. Todo indivíduo conectado tem a “consciência” de ser parte da história, de ter a possibilidade de ajudar a escrever a história. A família e a escola têm um papel determinante no desenvolvimento de uma cultura do desenvolvimento.

Mesmo os miseráveis que recolhem lixo pelas ruas para reciclar sentem a necessidade de se conectar, receber e transmitir informação. A mão vazia do oprimido representa a mente fragmentada, a dificuldade em articular o pensamento no contexto e de encontrar explicações lógicas para o que está ao seu redor. A condição de subalterno se explica na crença no destino, “é assim mesmo, não se pode fazer nada”, e o próprio destino escapa da sua mão vazia de bens e significados.

O conhecimento da história expõe o indivíduo à angústia quotidiana que tudo poderia ser diferente se as coisas acontecessem de outra forma. O grau de satisfação ou insatisfação que cada um reflete é o resultado de uma observação do aprendizado da história, a consciência faz com que se perceba a própria história e a história da sociedade de uma forma mais complexa. Essa consciência aumenta a angústia diante da existência, mas a angústia é parte da vida quando vivida na sua total intensidade e complexidade. Não viver e se sentir oprimido porque a opressão faz com que a liberdade do eu seja ambígua, e faz com que seja facilitada a ação do opressor.

A criatividade é uma das principais estratégias contra a exclusão social. A exclusão é principalmente efeito da falta de representatividade, tanto na escola quanto nos meios de comunicação, que podem exercer uma espécie de violência simbólica e de opressão cultural. A alfabetização aos meios de comunicação também é necessária, para que se evite o analfabetismo funcional tecnológico, ou seja, aprender instrumentos de compreensão, participação ativa no processo e criação. 

Em situações sociais de extrema desigualdade e altos índices de exclusão, como é o caso do Brasil, a necessidade de ter políticas públicas e privadas que incentivem a alfabetização tecnológica e mediática é imprescindível para o fortalecimento da democracia. A falta de informação aliada à incapacidade de compreensão é um obstáculo a uma cidadania plena, dificultando o acesso aos direitos, a boas condições de vida, à cultura e ao poder.

O ideal de um mundo mais igualitário, no qual nações, culturas e povos podem viver em paridade como sujeitos abstratos tropeça na realidade. As desigualdades econômicas e culturais, limitação de renda, de ambiente social, de preparação cultural influem negativamente também na forma de receber notícias. Parece ter uma lógica na exclusão dos excluídos, como afirmou Manuel Castells. A caracterização dos valores e dos significados da identidade do ponto de vista da informação, em um mundo onde existem tantos analfabetos ou indivíduos sem acesso à informação ou às inovações tecnológicas, é uma forma de excluir ainda mais.

Na América Latina, na África, na Ásia, no Oriente Médio, nos imigrantes nas periferias da Europa, nos guetos nos Estados Unidos, memória e solidariedade devem ser cultivadas para enfrentar de modo sistemático o enfraquecimento da organização social e a má distribuição da informação. O debate sobre a democracia não enfrenta o problema fundamental. A imagem que temos da realidade na nossa mente às vezes não corresponde ao que acontece no mundo externo. A linguagem não é um veículo perfeito de significados. As palavras, como uma moeda, podem ser viradas e reviradas, provocando determinadas imagens hoje, outras amanhã. Não existe nenhuma certeza de que a palavra escrita ou proferida provoque a mesma reação na mente de quem a recebe.

Portanto a desigualdade na aquisição do conhecimento é um problema que deve ser enfrentado para a construção de uma sociedade democrática. A dificuldade em seguir a velocidade da distribuição das informações é um fator que faz crescer o abismo entre as várias classes sociais que têm relações diferenciadas com os meios de comunicação.  

Análises de dados e variáveis demográficas entre estrutura social e nível de educação demonstram que existe uma dificuldade de aquisição de conhecimento que influi em todo o percurso de aprendizado individual e pode determinar as condições de participação social. 

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