A educação é uma das possibilidades para a redução das desigualdades e para a inclusão social. Depois da família, existem dois principais espaços sociais onde o indivíduo pode ampliar os seus conhecimentos de modo mais integral, a escola e os meios de comunicação. A escola é um espaço potencial para a construção da cidadania, principalmente nas comunidades mais pobres. Os meios de comunicação são instituições que pretendem ter um papel de serviço público e se usados com consciência podem cumprir essa função. Educar aos meios de comunicação não deve ser, portanto, uma responsabilidade de uma disciplina escolar, mas de um percurso formativo do indivíduo.
Uma pesquisa da Newspaper Association of America Foundation, nos Estados Unidos, nas escolas onde o jornal era um recurso didático os estudantes tinham notas 10% mais altas que os alunos das escolas que não usavam o jornal. Obviamente esse não será o único fator, mas confirma que o uso dos jornais ajuda os estudantes no seu percurso formativo. Entre os estudantes que encontram mais dificuldade por causa da origem social, porque são imigrantes ou porque fazem parte de uma minoria étnica ou religiosa, os efeitos dos programas de leitura dos jornais na escola são mais visíveis. As notas das crianças e adolescentes podem aumentar em até 28% em comparação aos alunos de outras escolas que não oferecem projetos de incentivo à leitura.
Essa pesquisa de doutorado é uma proposta de educação aos meios de comunicação para o desenvolvimento, considerando que cada projeto é uma colaboração essencial na educação para o desenvolvimento porque é sempre uma tática para a construção de um pensamento mais livre e consciente. O saber disponível nos jornais deve servir de estímulo a todos os outros saberes porque o conhecimento é cada vez mais um bem social fundamental, do qual depende a nossa própria sobrevivência e a nossa capacidade de desenvolvimento. O saber é o grau de consciência que temos sobre aquilo que desejamos fazer, aquilo que queremos ter, que queremos sentir. Se esse conhecimento é negado por motivos econômicos ou sociais quer dizer que o indivíduo é privado da sua capacidade de decisão, portanto do seu direito a sobreviver com dignidade.
O direito à informação e ao saber não deveria ser limitado por nenhum fator, deveríamos aprender a aprender, aprender a encontrar significados nos fatos e extrair novas informações das informações. Não é suficiente estar em contato com o saber porque a mente humana tem necessidade de estímulo e da capacidade de decodificação para seguir adiante. Essa aproximação ao saber é possível somente se estabelecemos uma política pública de educação aos meios de comunicação que leve em consideração todos esses fatores. Apesar da defesa de uma política pública, as iniciativas individuais, sejam ao interno de instituições públicas ou privadas, não devem ser desvalorizadas. O primeiro passo é estabelecer um percurso formativo de empowerment contra as situações de desigualdade. Em um certo sentido, na redução da concentração de poder a comunicação pode ser um instrumento para o desenvolvimento sustentável, oferecendo a facilidade no acesso às informações, aos direitos e aos deveres.
A comunicação acontece de forma fragmentária, criando obstáculos, e isso aparece nos mais diversos âmbitos da vida, incluindo do ponto de vista trabalhista. A descontinuidade no quotidiano cria lacunas do ponto de vista narrativo que incidem diretamente sobre a capacidade de confrontar a identidade com a temporalidade. A capacidade de leitura da narração fragmentária no jornalismo é um dos desafios mais importantes para uma educação aos meios de comunicação porque autoriza também a aprender a narrar. A narrativa é uma necessidade de pertencimento a um grupo ou uma comunidade, de um enraizamento social no tempo. Essas novas relações sociais e midiáticas são então intensificadas pela dinâmica da comunicação global, pelo fluxo ininterrupto de informações e por um modelo de educação relativamente simples e mecânico na sua relação com os meios de comunicação.
As desigualdades na educação e na comunicação incidem sobre as desigualdades na vida. Na nossa opinião, a influência penetrante dos meios de comunicação na vida de cada um de nós não deveria ser descartada no percurso escolar. O que está em jogo é propor uma reflexão sobre as dificuldades que uma pessoa irá encontrar na sua trajetória de vida e o desenvolvimento de instrumentos para lutar contra os obstáculos, nesse caso, a educação aos meios de comunicação. A qualidade da herança cultural em função da classe social pode explicar as diferenças no êxito escolar em função da origem social na juventude, mas será a escola que vai determinar prioritariamente o comportamento intelectual na vida adulta.
Os fatores que envolvem os processos de aprendizado na escola têm influência sobre a capacidade de entender o mundo que está a sua volta. E não se trata de propor um modelo diferente de educação – até porque esse seria um outro debate – mas de inserir na escola atual um saber a mais, a educação aos meios de comunicação, no qual o indivíduo consiga participar mais ativamente da vida em comunidade.
Essa tese de doutorado se aproxima da concepção de igualdade como uma extensão do conceito de oportunidades iguais para adquirir condições específicas de vida. O processo educativo e também a participação democrática aos meios de comunicação são elementos essenciais nas políticas de aquisição de competências e de consequente redução das desigualdades. Tecnologia e linguagem devem caminhar juntos para o desenvolvimento intelectual da sociedade.
A teoria da comunicação não aprofundou o papel da narrativa jornalística do ponto de vista da transformação social e da sua influência na formação do pensamento do ponto de vista cognitivo. A resposta que procuramos é confrontar a escrita jornalística e o aprendizado da leitura. Na escola se ensina a ler literatura, enquanto a narração do quotidiano, das vicissitudes de um grupo ou de uma comunidade, a narrativa das identidades é uma forma popular de narrar histórias que não é valorizada. Essa realidade não percebida esconde uma recusa do outro porque afasta os indivíduos e aumenta o contraste entre os que sabem e podem fazer suas narrativas e aqueles que não aprenderam a fazê-lo. A educação aos meios de comunicação pode servir como uma ponte para chegar a resultados mais profundos, como aprender um conteúdo, enfrentar uma situação social difícil.
A proposta, portanto, é ressaltar o papel pedagógico e político do jornal dentro de uma política de desenvolvimento. Para isso o jornal não deveria ser, portanto, usado na escola apenas como um recurso didático ou ponto de apoio para o estudo de uma disciplina. Na política de educação à leitura do jornal, ele se torna um objeto de estudo em si mesmo, podendo ser usado como recurso auxiliar, mas não transformando em uma estratégia simplificada.
Tudo o que existe atrás de um jornal, incluindo o seu processo de elaboração, a linguagem e os sistemas de investigação e manipulação de dados, é uma verdadeira estratégia interdisciplinar como tantas outras que pode levar a uma forma de aprender sínteses e visões globais dos problemas. As atividades com o jornal são elementos fundamentais do percurso escolar que são desconsiderados. A linguagem jornalística é uma linguagem a mais, e não menos importante, da comunicação humana. Se usado bem o jornal pode se tornar um instrumento de trabalho complexo e muito significativo.
O jornal é um elemento integrador da comunicação e pode agregar conhecimentos e conteúdos de qualquer currículo. Por isso deveria ser mais que uma atividade em sala de aula. Também criar jornais escolares é uma atividade de desenvolvimento narrativo, pode ser um instrumento amplo e diversificado com processos de produção bem delineados e que pode se transformar em um instrumento didático privilegiado. O jornal escolar poderia servir como veículo integrador para os estudantes como, por exemplo, ser um informativo sobre tarefas e provas.
Fazer um jornal, com toda a sua complexidade, é uma resposta didática para diversas disciplinas, argumentos e atividades. Aprender a narrar um fato, fazer uma entrevista, ser capaz de traduzir essa experiência em uma outra linguagem e se fazer entender é um processo que desenvolve o potencial comunicativo e coloca o indivíduo dentro de um sistema de troca de conhecimentos para uma cidadania mais completa. O trabalho comum, a relação pessoal, a pesquisa de dados, a investigação e tantos outros aspectos podem ser investigados em sala de aula por meio da elaboração de um jornal. Na atividade de fazer um jornal é necessário planejar, saber o que se procura, oferecendo uma importante estratégia didática.
Essa é uma proposta panorâmica dos projetos de educação à leitura dos jornais e de elaboração de jornais em sala de aula no mundo, com uma atenção especial ao caso italiano e brasileiro, com o objetivo de fornecer elementos para uma reflexão sobre as possibilidades de uso do jornal na escola e também como demonstração da crescente relevância que a palavra pode ainda ter no mundo de hoje. A proposta é um incentivo à criação de políticas públicas em que ensinar a leitura dos jornais seja parte integrante do currículo escolar, com o objetivo de incrementar as competências de leitura e oferecer estratégias para o desenvolvimento através do debate e da informação. As consequências de uma educação à leitura do jornal incluem o aumento do grau de alfabetização e de redução das desigualdades.